Quando se fala em imigração alemã no Brasil é preciso entender o contexto histórico, econômico e político do nosso País e do Rio Grande do Sul por volta do ano de 1824. O Brasil tinha meia dúzia de centros notórios como Rio de Janeiro, a capital do recém-criado Império Brasileiro; Salvador, antiga capital; Recife, São Paulo e núcleos mais provincianos como Porto Alegre.

 

O Brasil era movido pelos escravos. De seu suor, sangue e lágrimas vivia a jovem nação. Açúcar, gado, cacau, pedras preciosas, tudo nascia de mãos escravizadas. E como estavam em maior número do que os “homens livres” é possível que o Governo tenha começado a pensar em imigrantes de outros países, ou seja, brancos como os donos das terras.

 

O Rio Grande de São Pedro tinha Porto Alegre como capital. Ainda marcavam presença Viamão, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Pelotas e Rio Grande, para citar apenas alguns núcleos. O gado constituía a grande riqueza, permanentemente ligada à história do extremo sul. Aqui também o braço servil era uma realidade. O sul do Brasil era uma área em disputa com os países vizinhos. Haviam constantes invasões e atividades bélicas para manter as fronteiras brasileiras. A colonização mais intensa daquele pedaço de terra poderia ajudar a manter o equilíbrio geopolítico. Na verdade, os açorianos, então “donos” do Rio Grande, eram, também, os “eternos vigilantes”. Afirmava-se que dormiam com um olho só, o outro estava sempre aberto para ver o inimigo chegar.

 

Colonizar o sul era uma necessidade imperativa, mas onde buscar os colonizadores?

 

É claro que não viriam portugueses, de quem o Brasil acabara de se emancipar. Espanhóis, nem pensar, porque eram os inimigos naquela região. Franceses também não, porque um dia haviam invadido o Rio de Janeiro, fundando a “França Antártica”. Ingleses também não, porque igualmente haviam tentado instalar-se no Brasil. Holandeses fora de cogitação, pois estiveram 24 anos no Nordeste.

 

A maioria dos europeus não conhecia o Brasil. Porém, nos meios políticos e governamentais o Brasil era conhecido porque a filha de Francisco I, imperador da Áustria, era casada com o jovem Imperador Brasileiro, Dom Pedro I. A arquiduquesa Leopoldina Carolina Josefa contraiu matrimonio com D. Pedro, antes da independência do Brasil, quando ele era apenas príncipe, no dia 13 de maio de 1817.

 

Dona Leopoldina conquistou os brasileiros não só por ser atenciosa, simpática, inteligente e cativante, mas principalmente pelo seu papel ativo da independência do Brasil. Maria Leopoldina, então princesa regente do Brasil por conta de uma ausência de Dom Pedro, assinou o decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal em 1822.

 

Ela era considerada uma “mãe”, pois quanto mais os brasileiros ficaram conhecendo seu imperador, com todos seus pecados, tanto mais Leopoldina subia no conceito deles. É fácil imaginar que o fato de uma princesa germânica ser a Imperatriz do Brasil tenha dado ênfase à imigração alemã.

 

Assim, o jovem país precisava de colonos para povoar o sul do país e de soldados para defender o seu território, já que os portugueses, com a Independência, haviam voltado para Portugal. Foi assim que D. Pedro I, admirador das qualidades do exército Prussiano, interessou-se na imigração alemã, ou melhor, em contratar mercenários e colonos alemães.

 

Para tanto enviou à Alemanha, como preposto do Império, Jorge Antônio von Schäffer, mais conhecido como o major Schäffer, médico, negociante e militar nascido no Palatinado, estado do Império Austríaco. A missão de Schäffer, embora exitosa, teve muitos percalços. A Europa estava impedindo que soldados saíssem como mercenários. Quem desejasse emigrar, deveria renunciar a nacionalidade e apresentar provas de que o país destinatário lhe daria nova nacionalidade.

 

O governo brasileiro oferecia passagem paga, concessão de cidadania, concessão de lotes de terra livres e desimpedidos, suprimento com primeiras necessidades, materiais de trabalho e animais, isenção de impostos por alguns anos e liberdade de culto.

 

No Brasil há uma expressão popular que diz: “quando a esmola é demais o pobre desconfia”. É muito possível que alguém considerasse a oferta grande demais. Isso iria confirmar-se mais tarde, porque chegar ao Rio Grande do Sul, mais especificamente a São Leopoldo, e receber um lote de terras a 30 ou 40 quilômetros distantes da sede, sem estradas, sem escolas, na mata virgem, deve ter provocado muitas lágrimas.

 

Outra dificuldade enfrentada pelos imigrantes foi em relação a liberdade de culto oferecida pelo Governo Brasileiro. Pela Constituição Imperial de 1824, a religião católica era oficial. Os demais credos poderiam ser praticados, em caráter particular, em casas, sem aparência exterior de templo. Isto gerou conflitos e constrangimentos, pois um grande número de imigrantes eram luteranos.

 

Leia mais sobre esse assunto:

Os primeiros imigrantes alemães no Rio Grande do Sul

A contribuição Teuta na formação da Nação Brasileira

4 respostas

  1. MUITO BOA PUBLICAÇÃO. TEXTO DE AGRADÁVEL LEITURA, CONTENDO DIVERSAS INFORMAÇÕES, QUE MUITOS NÓS AINDA NÃO CONHECIA. OBRIGADO! Carlos F. R. Dreher 13.07.22

  2. MUITO BOA PUBLICAÇÃO. TEXTO DE AGRADÁVEL LEITURA, CONTENDO DIVERSAS INFORMAÇÕES, QUE MUITOS NÓS AINDA NÃO CONHECIA. OBRIGADO! Carlos F. R. Dreher 13.07.22

    1. Agradeço a visita ao site dos descendentes da Família Dienstmann. Fico muito feliz pelo seu comentário e por estarmos contribuindo com o resgate e valorização da história da imigração alemã no Brasil.

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